Guerra no WhastApp e suspeitas sobre ex-assessor do filho coroam semana turbulenta de Bolsonaro

Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil.

Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil

O presidente eleito Jair Bolsonaro começa a sentir as dores do parto do seu Governo com as notícias indigestas de que parlamentares do PSL guerrearam publicamente esta semana, com o vazamento para a imprensa das trocas de farpas virtuais pelo grupo do WhatsApp do partido nesta quinta. A briga protagonizada pela jornalista e deputada federal eleita Joice Hasselmann e o senador eleito Major Olympio, atualmente deputado federal, foi inflamada com a interferência do filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro, que tratou de alinhar-se com Olympio, como noticiaram O Globo e a revista Crusoé.

O imbróglio teve como pano de fundo a disputa pelo papel de líder do partido no Congresso, que Hasselman reivindica para si, assim como o futuro senador. “Nossa articulação oficial na Câmara e no Senado, repito, está abaixo da linha da miséria”, reclamou ela no grupo. Olympio argumentou que Bolsonaro havia dado a ele e ao delegado Waldir, que também se elegeu pelo PSL, a incumbência de articular a base no Parlamento. Mas a briga descambou com direito a alfinetadas que correram na madrugada de quinta-feira.

Na sequência, foi a vez de Eduardo Bolsonaro entrar no ringue virtuale criticar a postura da jornalista, que foi a deputada mais votada do pleito. “Salta aos olhos a intenção da Joice de ser líder e, assim como já demonstrou na época da campanha, ela atropela qualquer um que esteja à frente de seus objetivos”. Daí para a frente foi ladeira abaixo. Joice chamou Eduardo de "infantil" e pediu a ele para que “cresça”, e Eduardo Bolsonaro retrucou que a futura colega da Câmara era sonsa e tinha fama de louca.

A lavagem de roupa suja no Twitter por si só seria uma dor de cabeça enorme para o presidente eleito se ela não tivesse disputado espaço na imprensa e nas redes sociais com outra revelação incômoda para Bolsonaro. A notícia de que um ex-assessor do senador eleito Flavio Bolsonaro movimentou 1,2 milhão de reais, dinheiro incompatível com a sua renda, fez sobrarem as saias justas para integrantes do seu futuro governo.

O juiz Sergio Moro, símbolo da luta anticorrupção, e que deve assumir a pasta da Justiça, preferiu o silêncio quando questionado sobre o assunto na saída do Centro Cultural Banco do Brasil, sede do governo de transição. Já o deputado Onyx Lorenzoni, que deve assumir a Casa Civil e participava de um evento em São Paulo, aceitou falar com os jornalistas, mas ficou irritado com as perguntas a respeito da movimentação financeira atípica do PM Fabrício Queiroz, incluindo um cheque de 24.000 reais para a futura primeira dama Michele, conforme revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

“A aliança ideológica que se constituiu no Brasil faz com que vocês queiram misturar um governo decente, um governo honesto que está apenas em seu alvorecer, com a lambança que o PT fez aqui”, queixou-se Lorenzoni, que deixou a coletiva abruptamente. O próprio Lorenzoni, no entanto, já havia criado um foco de tensão no núcleo do PSL depois que o Supremo Tribunal Federal aceitou a abertura da investigação sobre os 200.000 reais não declarados que ele recebeu da empresa JBS na eleição de 2014.

No final da sexta, o presidente eleito optou por falar abertamente sobre o caso para ao site O Antagonista. Disse que Fabrício Queiroz é seu amigo dos tempos do Exército, e que emprestou dinheiro a ele algumas vezes. Desses empréstimos, gerou-se uma dívida, mas que ele não lembra os valores exatos. E que os tais 24.000 na conta de Michele se referiam a parte do pagamento da dívida que o ex-assessor tinha com ele. “Emprestei dinheiro a ele em outras oportunidades. Nessa última, ele estava com problemas financeiros e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou”, disse. Queiroz repassou 40.000 e não 24.000 para a futura primeira dama, segundo Bolsonaro. “Eu poderia ter botado na minha conta, mas foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair”, explicou. Flávio Bolsonaro também falou à imprensa: disse ter falado com o ex-assessor que teria lhe dado uma explicação convincente para as movimentações. "Só que quem tem que ser convencido não sou eu, é o Ministério Público", disse.

O imbróglio do amigo e ex-assessor do seu filho e a guerra do WhatsApp colocam um bode na sala do PSL que passou a semana trabalhando para conseguir apoio de partidos para a sua pauta no Congresso buscando um modelo inovador de negociação com o parlamento, viciado na prática de garantir espaço segundo o apoio concedido. As notícias abrem um flanco para os adversários num momento em que o futuro presidente promete aposentar o tal toma lá dá cá para colocar seu plano liberal para a economia enquanto instala uma guerra ao que vê como influência da esquerda na pauta dos costumes.

Com 52 deputados eleitos e quatro senadores, o PSL estreia na nova legislatura como o segundo partido com a maior bancada, depois do PT, e tem o desafio de mostrar-se afinado para dar sustentação aos planos de Bolsonaro. Os petardos desta semana serão levados para a mesa na reunião marcada pelo partido para o próximo dia 12. Mas tanto Joice como o senador Olympio mostraram disposição de estender a pendenga virtual ao longo desta sexta com provocações mútuas no Twitter. A dúvida é quem será capaz de pacificar os ânimos em vez de jogar mais gasolina na fogueira do partido do presidente eleito.

Autor / Fonte: El País/Carla Jiménez

Comentários

Leia Também