O incrível país que não acredita que sofreu um golpe

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Por Luciana Oliveira

Da abertura ao desfecho do impeachment da presidenta Dilma Rousseff muitos confessaram que sua deposição nada teve a ver com crime de responsabilidade ou incompetência em promover a governabilidade.

Ela caiu, porque não fez o que seu vice se prestou a fazer para proteger corruptos e bancar privilégios de uma elite minúscula e egoísta.

Estão roucos, mas não calam, os que denunciam o golpe parlamentar-midiático-judicial orquestrado por oligarquias corruptas que desde sempre mandam e desmandam no país.

Seguem moucos os que integram a maioria indiferente às confissões dos golpistas.

Após um ano, com provas cada vez mais robustas de que Temer foi o desvio aberto por corruptos ao caminho da impunidade, ainda é mais quem nega o espúrio acordo nacional com o STF, com tudo, que motivou a ruptura democrática.

O golpe de 2016 é chuleado com confissões e nada desfiará mais esse capítulo vergonhoso e trágico da história da política brasileira.

O ex-deputado Eduardo Cunha chegou a chamar de golpe o pedido de abertura do processo de impeachment, mas o autorizou tão logo o PT anunciou que não votaria a seu favor no conselho de ética por quebra de decoro.

Durante as votações muitos parlamentares como o senador Acir Gurgcaz (PDT-RO) votaram a favor do afastamento definitivo da presidenta, admitindo publicamente que não havia crime de responsabilidade.

Em áudios amplamente divulgados na imprensa, o então ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, revelaram o roteiro do golpe para estancar a sangria representada pela Operação Lava Jato.

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O presidente golpista Michel Temer não se acanhou em dizer que a petista só foi derrubada por ter recusado as propostas do PMDB no documento intitulado “Ponte para o Futuro”. “Como isso não deu certo, não houve a adoção, instaurou-se um processo que culminou, agora, com a minha efetivação como presidente da República”, confessou.

Uma sequência de delações vem detalhando como e por que o impeachment se consumou e como Temer comprova sua ‘competência’ de manter a governabilidade com um inabalável esquema de distribuição de propinas e cargos.

Os cúmplices mais próximos de Temer, estão presos ou serão, mais dia menos dia.

O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi flagrado correndo uma mala com R$ 500 mil da JBS de um estacionamento de uma pizzaria.

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As digitais de outros dois auxiliares diretos, Geddel Vieira Lima e Gustavo Ferraz, foram encontradas em malas e caixas com R$ 51 milhões guardadas num apartamento de Salvador vinculado ao ex-ministro de Temer.

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Nesta segunda-feira (16), a Polícia Federal vasculhou o gabinete e residências do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel. E adivinha? A digitais de Job Ribeiro Brandão, secretário parlamentar do deputado irmão do ex-ministro, também foram encontradas na fortuna.

Enquanto isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se queixa da ingratidão de Temer em carta que também confessa dedicação para barrar a primeira denúncia por corrupção contra um presidente da república.

“Da minha parte, uma perplexidade muito grande ver o advogado do presidente da República, depois de tudo que fiz pelo presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira denúncia, ser tratado de forma absurda e – vamos chamar assim –sem nenhum tipo de prova, de criminoso.”

Os vídeos em que o operador do PMDB, Lúcio Funaro, afirma que recebeu do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha R$ 1 milhão para “comprar” votos a favor do impeachment, foram disponibilizados no site da Câmara.

Certamente vão fingir não ter visto e na votação do relatório para autorizar a investigação, os deputados representarão os moucos barrando mais uma denúncia contra Temer.

A única coisa que cresce no país é o medo e a hipocrisia.

Resta aos roucos não calar pra se distinguirem dos moucos no país do fingimento moral.

Autor / Fonte: Luciana Oliveira

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