Percentual de fumantes é reavaliado em Rondônia; entre 2011 e 2015, o tabagismo reduziu para 10%

Patrícia Santiago quer parar de fumar e ter uma vida mais saudável

Estresse, sedentarismo e cigarro levaram ao sofrimento a servidora estadual Patrícia Santiago, 41 anos. Vítima de microangiopatia isquêmica cerebral constatada em consultas médicas, Patrícia já concluiu que está à beira de um AVC. “Os vasos do cérebro estão se rompendo, a situação é progressiva, não tem volta”, lamentou.

A doença de Patrícia é também conhecida por gliose, aterosclerose cerebral. “Nós, seres humanos, fazemos planos na vida, mas sabemos que somos mortais, mas o querer é a força maior pra gente dizer: vou ser feliz hoje, se eu conseguir parar o vício”, desabafou.

Mãe de dois filhos estudantes que se incomodam com a sua situação, ela já aplicou adesivos, bebeu remédios e mascou chiclete com nicotina.  Este é um dos métodos na Terapia de Reposição de Nicotina (TRN), que repõe a substância responsável pelo vício no cigarro, excluindo outras que fazem mal à saúde. Dessa forma ela evita crises de abstinência e com a redução gradual das doses de nicotina, ajuda no processo de parar de fumar.

Estudos mostram que um programa de cessação do tabagismo é considerado efetivo quando se alcança a taxa de cessação de fumar igual ou superior a 30% após 12 meses.

AVALIAÇÃO ESTADUAL

Em Rondônia, 36 municípios assumiram a execução de programas de combate ao vício do tabagismo, que origina diversas doenças, matando duzentos mil pessoas por ano no País e seis milhões no mundo, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

São doenças crônicas não transmissíveis, entre elas o câncer, complicações pulmonares e cardiovasculares, lembrou hoje (23) a coordenadora estadual em controle do tabagismo na Secretaria Estadual de Saúde, Cremilda Queiroz.

Até o ano passado, 42 municípios inscreveram-se para fazer campanhas e diminuir o número de fumantes. O tabagismo ainda é um grave problema de saúde pública. Rondônia havia obtido redução de 17% para 10% entre 2011 e 2015. Cremilda Queiroz diz que esse resultado vem sendo agora reavaliado.

Marly Mello experimentou o cigarro de palha que o pai fumava

Marli Melo, 43, nascida em Rondonópolis (MT), também servidora pública, fuma desde menina. “Meu pai era agricultor e eu, curiosa, experimentei pela primeira vez o cigarro de palha que ele fumava”, contou.

Em 1986, quando a família se mudou para Porto Velho, ela já comprava cigarros de pacotes. “Parei de fumar durante a gravidez, voltei, mas não faço isso dentro de casa”, diz Marli, mãe de dois filhos de 16 e 20 anos.

O tabagismo apresenta um padrão evolutivo semelhante ao de doenças crônicas, podendo apresentar períodos de remissões e recidivas.

Estudos mostram que os fumantes tentam parar de fumar em média cinco vezes até conseguir parar definitivamente. “Eu fumo pouco, uns seis cigarros por dia, já tentei parar várias vezes”, relata Rubem Torrico, 65, casado, três filhos.

Buscando conformar-se, ele acredita que cada organismo reage de uma forma ao efeito do fumo. “Não é um vício pra morrer”, disse.

No interior de Rondônia, segundo Cremilda, pacientes com vontade de deixar o vício valiam-se até há pouco tempo dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), mas os casos mais graves eram tratados em Porto Velho. Atualmente batem às portas da Policlínica Oswaldo Cruz, na capital.

Rubem Torrico tentou parar de fumar várias vezes

Dados apresentados em estudo do médico Leonardo Henrique Portes, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ Fundação Oswaldo Cruz, revelam: a maior prevalência de fumantes do sexo masculino é observada nos países de renda média alta (42,4%). Entre as mulheres, a prevalência de fumantes é mais elevada nos países de alta renda (17,5%).

O Brasil ainda apresenta elevado número de fumantes. O IBGE estima que a prevalência de usuários de produtos derivados do tabaco no País corresponda a 15% das pessoas de 18 anos ou mais de idade.

Guilherme de Oliveira, ex-fumante

PAROU NO ANIVERSÁRIO DA FILHA

Guilherme Lucival Pinheiro de Oliveira, 66, começou a fumar no garimpo Jucá, em Ariquemes, quando abastecia o pai, o ex-guarda territorial e ferroviário Guilherme de Oliveira. “Cada vez eu comprava uns dez pacotes de cigarro e levava pra ele até de avião. Mesmo assim, ele viveu anos, e isso a gente até hoje não entendeu como acontece com os fumantes”, disse.

Era comum nos anos 1970 e 80 o fretamento de aviões no antigo aeroporto Caiari em Porto Velho, para voos entre a capital, garimpos e empresas de mineração.

Atualmente com oito filhos e 18 netos, ele conta que parou há 25 anos, no dia em que a filha Judilene inteirou 15, com festinha em casa. “Eu decidi assim porque estava com um pigarro terrível. Perturbava as pessoas, e nem dormia mais direito”.

ONDE ESTÁ O VÍCIO

► Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), comparando-se com a África, Américas, Pacífico Ocidental, Europa, Mediterrâneo Oriental e Sudeste asiático, a Europa apresenta a maior prevalência de tabagistas (31%) e a África a menor (13,4%).

► Nas Américas, estima-se que 16,4% de sua população seja fumante.

► Em todas as regiões, a prevalência de fumantes do sexo masculino é maior, sendo que a maior disparidade ocorre no Pacífico Ocidental, onde o número de homens fumantes é cerca de 20 vezes maior que o das mulheres.

► A menor disparidade ocorre na região das Américas, onde a prevalência de fumantes entre os homens é de 22,8% e entre as mulheres corresponde a 10,4%. [Leonardo Portes, Fiocruz.

Autor / Fonte: Montezuma Cruz/Secom

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